domingo, 19 de setembro de 2010

sertania


No nordeste há algo que engrandece,
uma tristeza que enobrece.
Sol escaldante, terra seca e vaca magra.
Homem que trabalha, pobreza que avassala.
Do agreste ao sertão, alegria de peão encosta,
família rí, família chora, a fome assola.
Quando a sanfona toca virgulino na sua neguinha encosta,
Lampião e sua Maria, ah que coisa bonita.
De Campina a Palmares, há de se dizer
a beleza não está só nos mares.
A beleza também está no coração, do homem que vive no sertão.

domingo, 1 de agosto de 2010

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Sou carne, sou desejo
Sou corpo, sentimento perdido
Amor translúcido.
Sou vento que vai com o tempo e que com o tempo se vai.
Sou aquele que trai, sou veneno que transporta paz.
Como uma guerra que termina em silêncio.
Sou terreno sem dono, sou caminho, encruzilhada.
Tentativa de suicídio frustrada.
Sou a luz, sou a escuridão, sou conhecimento,
Sou dúvida sem esclarecimento,
estrada sem placa, explosão sem aviso,
Amor sem início, começo e recomeço,
Sem saber onde começa o fim e termina o começo.
Sou relativo, direto e intransitivo.
Sou presença que me basta, sou amor próprio
E por isso a solidão me caça.
Sou no meio da multidão apenas um, sou sozinho uma procissão.
Sou a beira do abismo, sou a luz no fim do túnel.
Posso ser sua salvação, posso ser sua perdição.
Mas meu desejo é simples, sincero,
Amor sem guerra, ódio voando pela janela.
Desejo enfim paz, para poder dormir tranquilo.

sábado, 29 de maio de 2010

Esperança


Esta noite eu tive medo, medo de mim mesmo
estive fora, como mero espectador de um filme de terror,
sujo da mais pura acidez humana, a escuridão pelo menos me esconde.
Permaneci latente como um vírus parasita, a espera de um momento de fraqueza
e dai mostrei-me humano, forte e implacável, mas que não pode ser justo.
Fechei os olhos e tentei ver o que não há, senti-me tranquilo, até que lampejos de realidade
me trouxeram de volta, olhei em volta e chorei e como gotas de chuva minhas lágrimas mergulharam no nada e minhas palavras ecoaram no silêncio,
que um dia há de ser preenchido com palavras de esperança, que um dia há de ser preenchido
com atos de esperança.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vinho, Rosas e o Fio da espada.


Te dou rosas e vinho,
te ofereço o meu amor
contarei a tí mentiras sinceras,
que são as verdades do meu coração
por este caminho sinuoso
cheio de dúvidas eu sobrevivo
agindo com o instinto que o tempo me ensinou
fiz amizade com os lobos
e aprendi a admirar o luar
do antigo medo do escuro nem me lembro mais
da luz da lua espero as sombras que pairam solitárias
e por elas caminho,
sozinho, entre as trevas
numa estrada estreita,
como o fio de uma espada.
De um lado há morte, do outro há morte
de um lado há morte, do outro talvez sorte
e no meio há vida,
sustentada pelo equilíbrio.

terça-feira, 9 de março de 2010

A finitude.


Existem histórias que não deveriam ter fim, deveriam ser como os contos de fadas, em que o final não existe. Algumas coisas começam e caminham até se aproximarem do fim e começam a perder seu brilho. “Mas será que tornamos assim?” Pois algumas coisas que são imutáveis, permanecem reluzentes, sem perder o esplendor que pela natureza lhes foi dado. Do nascer ao anoitecer o Sol permanece brilhante, cheio de vida. Após o entardecer a Lua vem trazendo luz, ao escuro, cortando o vazio da noite.

O fim acaba por trazer às vezes o nunca mais, o ímpeto finalizador, contrariador da eternidade, que por vezes nos traz a esperança de dias melhores, pois sempre haverá um futuro a ser construído. Aos homens foi dada uma dádiva, de escrever a própria história, de desenhar o próprio futuro sem ter que por um fim. Já passamos por vários finais, como ensaios, para o grande final, “destinificado’’, pelas páginas escritas até hoje. Como grandes dramaturgos romancistas, estamos arquitetando um final digno de um drama literal, onde por mais triste que seja não haverá borracha, para que seja reescrito. Mas talvez nos reste páginas, para que possamos continuar a escreve-lo, sem ter que por um fim.